

UI'WEDE
BRASIL, 2018
Mulheres, homens, crianças: demonstrações de força e resistência são constantes no cotidiano da cultura Xavante.
No começo do século 18, a descoberta do ouro na então província de Goiás acarretou na chegada de mineradores, exploradores e missionários, que causaram grandes conflitos com populações indígenas, que reagiram de formas diversas. Alguns resistiram e lutaram, outros se renderam e outros migraram.
Apesar de serem conhecidos como um dos povos mais temidos da região, alguns Xavantes foram convencidos a viver em assentamentos feitos pelo governo brasileiro. Nesses locais, foram atingidos por doenças como sarampo, gripe e catapora. Comuns para não-indígenas, mortais para quem sempre esteve nessas terras onde nada disso existia. Muitos morreram, sem saber como lidar com a doença. Não muito diferente com o que acontece nos tempos atuais.
Com os casos de coronavírus espalhando-se rapidamente em terras indígenas e a consequente perda de lideranças, anciões e guardiões da medicina tradicional, a pandemia inflige mudanças até pouco tempo impensáveis na cultura e modo de vida de muitas comunidades indígenas. Fatos corriqueiros no dia-a-dia indígena, como atividades em grupo e compartilhamento de utensílios, de roupas e de casas, terão de mudar por conta do vírus.
Nesse ensaio, os Xavante mostram o que é mais valorizado por sua cultura: demonstrações de força. Lutas corporais como o wa’i e as corridas de revezamento com toras de buriti, chamadas ui'wede, exibem rivalidades entre as metades opostas. Nas corridas de revezamento, cada participante esforça-se ao máximo ao longo de trechos curtos, portando sobre os ombros uma enorme e pesada tora de buriti (aproximadamente 80 quilos para os homens e 60 para as mulheres).
Em seguida, trata de transferir a tora aos ombros de algum outro membro de seu “time”, que fica à espera. Essas toras são transportadas pelos corredores ao longo de trajetos de seis a oito quilômetros, que terminam no centro da aldeia. As corridas sempre envolvem pessoas do mesmo sexo e opõem times compostos, cada qual, por classes de idade das metades ágamas. Apenas adultos podem transportar as toras. Contudo, essas corridas são acompanhadas por todos os membros fisicamente aptos da comunidade, o que faz delas eventos excepcionalmente animados e divertidos. O correr com toras é, sem dúvida, uma das atividades esportivas favoritas dos Xavante.
No wa´i, mulheres também participam e se juntam para lutar coletivamente contra um único homem, segundo elas, "uma oportunidade de lavar a roupa suja", acompanhada pela plateia que se diverte e incentiva as combatentes a seguirem com a luta.
Uma criança Xavante foi o primeiro caso 'oficial' de morte devido à Covid entre os indígenas do estado do Mato Grosso, em maio. Infecções por Coronavírus são uma enorme ameaça à etnia, seja por conta de sua cultura com fortes princípios mutualistas ou pela falta de acesso à saúde pública, causada pelo descaso das políticas voltadas aos povos indígenas.
(LEGENDAS EM BREVE)



